IV Congresso Internacional de Dialetologia e Sociolinguística
CIDS 2016 Paris-Sorbonne
Dias 7, 8 e 9 de setembro de 2016
CHAMADA DE COMUNICAÇÕES
O 4º Congresso Internacional de Dialetologia e Sociolinguística é a oportunidade para campos disciplinares historicamente relacionados, ainda que cada um privilegie abordagens específicas para seu objeto de estudo, interrogarem-se sobre as ferramentas metodológicas, os conceitos operatórios e a relação complexa entre os segmentos linguísticos estudados, o ponto de vista adotado e os resultados obtidos.
Por essa razão, o congresso se concentrará em três temas em torno dos quais desejamos organizar um debate que interrogue um dos conceitos-chave da dialetologia e da sociolinguística: a variação. O objetivo é sair dos caminhos já percorridos para opor pontos de vista sincrônicos e diacrônicos, relacionar os diferentes tipos de variação, sem se limitar a um único parâmetro, avaliar a pertinência epistemológica desse conceito e a mais-valia teórica que ele pode trazer, particularmente, em dialetologia e sociolinguística. Tal reflexão é ainda mais urgente pelo fato de que as situações linguísticas com as quais somos cada vez mais confrontados na área são de uma complexidade tão grande que as fronteiras entre dialetologia e sociolinguística encontram-se, por vezes, um pouco obscuras. Esse é o caso, por exemplo, das situações inéditas nas megalópoles no mundo inteiro em que se praticam usos cruzados, misturados, embaralhados etc. e onde pequenas ilhas linguísticas resistem diante da padronização generalizada pela globalização das trocas e do desenvolvimento vertiginoso dos meios de comunicação.
Também seria pertinente interrogar-se sobre as diferentes estratégias adotadas pelas comunidades linguísticas para preservar suas identidades, conservando os laços necessários com círculos próximos e distantes. Identidades e diferenças representariam, assim, os dois termos de um eixo em torno do qual se articulariam questões relativas às posturas linguísticas adotadas pelos indivíduos e grupos sociais, à preservação dos patrimônios linguísticos enquanto marcadores identitários muito poderosos, às políticas linguísticas conduzidas nos países de imigração e de acolhida, em que a gestão linguística, ligada à da integração, é considerada como central. Tantas questões colocam-se em torno das dimensões geográficas, étnicas e sociais das línguas, dentre as quais queremos privilegiar um dos aspectos mais notáveis da idiomaticidade, o da fraseologia.
Este segundo tema do congresso, que se articula totalmente com o primeiro, tem o mérito de evocar aspectos que abrem caminho para todo um segmento da pesquisa relativamente inexplorada nesse domínio: considera-se fraseologia toda associação sintagmática que mostre um grau mínimo de invariabilidade tendo por contrapartida um sentido global próprio, em ruptura total ou parcial com o sentido composicional do sintagma livre correspondente. O fato de deslocar o centro de interesse da palavra para o combinatório das palavras permite integrar um conjunto de novos elementos significativos nas diferentes realizações linguísticas: a característica que parece “natural” aos nativos de certas combinações, seu aspecto pré-construído, apropriado e conveniente, sua cristalização no léxico e especificidades semânticas fazem delas suportes privilegiados de conteúdos estereotipados compartilhados pelos falantes de uma mesma língua. É no discurso que as sequências polilexicais nascem, empregam-se, cristalizam-se e terminam por migrar para a língua. Esse ponto estabelecido entre discurso e língua traduz a dinâmica fundamental de toda comunicação verbal: é graças à língua que se constrói o discurso, e é no discurso que nasce a língua. Esse movimento perpétuo permite tirar a pesquisa linguística das visões estáticas correntes e direcioná-la para abordagens complexas que integrem a dinâmica do objeto linguístico. Assim, para estudar os fatos fraseológicos, teríamos a necessidade de levar em conta todos os aspectos linguísticos (léxico, morfologia, sintaxe, prosódia, semântica, pragmática etc.), de todas as configurações das sequências polilexicais (que vão da palavra ao texto, passando pelo sintagma e pela frase) e a dimensão enunciativa (que implica, entre outros, todos os marcadores relativos aos agentes da situação de enunciação). É essa complexidade do objeto fraseológico que impõe, pouco a pouco, trabalhos que tentam sair da compartimentação entre as disciplinas das ciências da linguagem e levar em consideração as contribuições de disciplinas conexas, como a tradutologia, a didática, a aquisição das línguas, o tratamento automático etc. É pelo viés das ferramentas da informática, por exemplo, que as ciências da linguagem vivem, atualmente, mudanças que levam os linguistas a se interrogar, entre outras questões, sobre a coleta de dados, sua estruturação e as diferentes explorações que podem fazer.
Disso resulta o terceiro tema, o dos recursos, termo cada vez mais empregado, sozinho ou em concorrência com outros, como dados, corpus etc. O congresso seria a oportunidade de discutir trabalhos relacionados com a coleta de dados, com tudo o que isso implica, como precauções metodológicas, sua natureza (oral ou escrita), tratamento, arquivamento, exploração etc. Em conformidade com os aspectos logísticos, poderíamos evocar novos métodos de trabalho que se tornaram possíveis graças à internet e às plataformas que fazem emergir diversas formas de trabalho colaborativo, acumulável e relativamente controlável. Além disso, vários questionamentos que apresentam interesse epistemológico fazem-se cada vez mais urgentes: Qual a relação entre as ferramentas da informática, o objeto estudado e o pesquisador? As exigências da informática modificam o objeto estudado? Elas não criariam artefatos que teriam um impacto direto sobre os resultados previstos da pesquisa? Como melhor explorar as possibilidades extraordinárias do digital para melhor preservar os patrimônios linguísticos, particularmente para as línguas ameaçadas ou em vias de extinção? Que impacto essa evolução poderia ter sobre as abordagens linguísticas, como, por exemplo, em matéria de história, criações neológicas, marcadores estilísticos etc.?
Em conformidade com esses três temas, tomados isoladamente e em interação uns com os outros, serão privilegiados os seguintes eixos:
– Geografia linguística: investigações, recursos, descrições etc.
– Contato de línguas: línguas veiculares, nacionais, vernáculas, indígenas, autóctones, dialetos, falares etc.
– Observações linguísticas: reflexão epistemológica e teórica, bases de dados, corpus de referência etc.
– Atlas linguísticos: coletas de dados, métodos de análise, representações cartográficas, informatização etc.
– Reflexão teórica: avaliação dos conceitos metodológicos, inovações teóricas, unidades de análise linguística etc.
– Aplicações: lexicografia, aprendizagem das línguas, ajuste linguístico, tradução, engenharia linguística etc.
– Dialetologia urbana: mistura linguística, padronização, insegurança linguística, mercado linguístico etc.
– Códigos criptonímicos: jargões, gírias, especificidades linguísticas socioprofissionais;
– Cristalização: colocações, sequências cristalizadas, paremiologia etc.
– Discursos especializados: vulgarização terminológica ou (des)terminologização, terminologia, marcas fraseológicas etc.
– Criatividade lexical e discursiva: neologia, descristalização, os empregos lúdicos etc.